Apesar de falarmos da morte da rainha Elizabeth II, que era uma monarca inglesa, o fato gerou comoção em diversas pessoas ao redor mundo, sendo que muitas não tinham nenhuma relação com ela ou o Reino Unido. Em grande parte, isso deve-se a um consolidado trabalho de marketing feito em torno da família real e que contou com participação ativa da monarca.
Para entender melhor esse verdadeiro fenômeno, vamos destacar como a família real tornou-se um grande sucesso de marketing.
Como atua a família real inglesa?
Uma coisa interessante a se observar em primeiro lugar, é que falamos basicamente de políticos (mesmo sem o poder de outrora). Mesmo assim, a família real e especialmente a antiga rainha Elizabeth II contavam com grande popularidade mundo afora. Se pensarmos na própria comoção que houve no Brasil e a grande antipatia que muitos têm pela classe política aqui, mostra o como a imagem deles é bem trabalhada.
Em parte obviamente isso passa pelo fato de eles não terem mais poderes de tomar decisões, já que hoje quem manda no Reino Unido é o parlamento britânico. Com isso a atuação deles passou a ser muito mais diplomática.
Tanto que era comum vermos a própria rainha Elizabeth II fazendo recepções para líderes de estado de diversos países. Assim como em diversas ocasiões tivemos visitas de príncipes e princesas a outros países, sendo a Diana o exemplo mais famoso.
Como foi trabalhada a imagem da realeza com os ingleses?
A comoção que fez o país parar e levou a filas quilométricas de pessoas querendo se despedir dela no velório é quase auto explicativo sobre como os ingleses tinham uma imagem extremamente positiva da realeza. Ainda que aqui devamos ressaltar que no Reino Unido não seja a mesma coisa, já que vimos tanto na Escócia como na Irlanda, manifestações de protesto a coroa e até mesmo a rainha.
Só que nos focando especialmente na Inglaterra, há uma conjunção de fatores que podem explicar uma popularidade tão alta: marketing, tradição e capacidade de adaptação.
Começando pela tradição, temos um forte apelo aos séculos de glória mundial do qual a Inglaterra desfrutou, quando dominava quase um quarto do planeta. Dentro dessa imagem de um país que ostentou por muito tempo a soberania mundial, a família real é como um símbolo dessa época gloriosa.
Especialmente após a segunda guerra Mundial, com o país esfacelado, a realeza (especialmente a própria Elizabeth II) serviram como uma espécie de resgate de orgulho da nação e da grandiosidade de outrora. Muitos viram no fato de ela assumir o posto tão jovem (apenas 25 anos), um exemplo a ser seguido de resiliência frente as adversidades.
Já a capacidade de adaptação mistura-se com o marketing, como veremos à seguir.
A família real como produto
Uma discussão que de tempos em tempos surge na Inglaterra, trata do fato de haver um custo altíssimo aos cofres públicos para manter a família real, sendo que o retorno que ela traz, poderia ser obtido mesmo sem sua existência. O fato é que a realeza é um produto com um mercado muito poderoso tanto em seu país natal, como mundo afora.
Só que se pararmos pra pensar, existem outras famílias reais mundo afora, mas porque apenas a inglesa gera todo esse interesse? Temos aí a capacidade de adaptação de Elizabeth II, que junto de seu marido Phillip e de seus assessores, souberam absorver as mudanças pelas quais o mundo passava.
Ou seja, evitavam viver em uma bolha e buscavam estar atentos às novas tecnologias e a própria realidade do país no momento. Neste cenário que entra todo trabalho de marketing em cima da imagem deles e da própria rainha. Entre os principais exemplos deste trabalho podemos citar:
1 – Casamentos como eventos históricos
O casamento de Charles e Diana (1981) e William e Kate (2011), foram dois dos eventos mais assistidos do mundo. Isso porque eles souberam trabalhar o próprio imaginário ocidental, que é repleto com contos de fadas trazendo toda essa magia dos matrimônios com príncipes e princesas.
E justamente essa aura que eles buscam passar com festas gloriosas, cheias de luxo e transmitindo essa imagem das histórias, como se fosse um “conto de fada da vida real”. Estes eventos tornam-se uma verdadeira fonte de lucro das mais variadas áreas.
Sejam os tabloides, as emissoras que transmitiram o casamento, os locais que fizeram as roupas presentes na cerimônia, todos conseguem um excelente retorno com a cobertura. Até mesmo no turismo, pois muitos também viajam para o país para conhecer os lugares que foram palcos destes eventos. Já para a família real, é mais uma forma de entrar no imaginário do público e reforçar sua imagem.
2 – Valorização do produto nacional
Os ingleses são um povo muito orgulhoso do país e daquilo que produzem e a família real sempre soube explorar muito bem isso. As formas são as mais diversas, mas para citarmos alguns exemplos: o Rolls Royce que serve como transporte para a família real, todas as roupas usadas pela antiga rainha e princesas, assim como acessórios, são de estilistas e designers ingleses.
O destaque fica para as mulheres aqui, já que a própria Elizabeth II tornou-se uma espécie de ícone da moda, especialmente quando passou a usar seus conjuntinhos com cores fortes, que sempre se destacavam na multidão. Mas não se pode esquecer a importância da princesa Diana nesse processo e agora de Kate ou mesmo Meghan.
Seus looks ilustravam páginas de revistas de moda e também de fofoca por sua elegância e viravam uma importante ferramenta de marketing, já que ao destacar estilistas e designers do país, conseguiam exaltar o orgulho da nação, que viam coisas criadas ali ganhando o mundo.
Só que Elizabeth, junto com sua assessoria foi além. Isso porque ao criar o “prêmio Rainha Elizabeth II” oferecido pelo British Fashion Council, que é dado a novos talentos da moda britânica, ela reforça a imagem de apoiadora do desenvolvimento da arte inglesa, através da moda.
3 – Fortalecimento da marca família real
Por fim temos outro exemplo de sucesso de como a família real soube trabalhar sua imagem. Lembram do que falamos da capacidade de adaptação? Pois a série da Netflix “The Crown” e filmes como Victoria, servem justamente para trabalhar a imagem e a marca família real dentro de mídias atuais, como o streaming.
Só que um trabalho no dia a dia também era necessário e ele se apoiava em alguns pontos fundamentais:
- Atuação política – tendo uma atuação muito mais diplomática, Elizabeth II sempre evitava ser muito atuante na política. Porém, ao mesmo tempo ela não se omitia em assuntos de grande interesse público, seja com mensagens ao povo ou com uma atuação como conselheira do parlamento. Servia para passar a imagem de uma líder sábia;
- Caridade – esta foi uma área especialmente bem trabalhada pela Princesa Diana. Como muitos países ao redor do mundo mantinham a imagem da Inglaterra opressora de muitos séculos, havia a necessidade de mostrar uma mudança. Por isso, passou a ser comum viagens diplomáticas da família real em caráter assistencialista, mostrando uma preocupação com os necessitados ao redor do mundo;
- Trabalhar rápido nas adversidades – a própria Diana rendeu um dos maiores problemas de imagem da rainha Elizabeth II. Seja na época da traição de Charles, seja na sua morte, como muitos sabiam que as duas não tinham uma boa relação, as reações muitas vezes frias ou mesmo não falar nada (como ocorreu pouco após a morte da princesa), trouxeram uma imagem negativa a ela, justamente pela popularidade da Lady Di ao redor do mundo. Porém, ela soube colocar o pessoal de lado e através de uma atuação respeitosa, superar essa crise de imagem. Houveram diversas outras, sendo a mais recente do príncipe Harry, mas sua rápida atuação evitou danos maiores a imagem da família real.
Considerações finais
Ao longo do artigo, a forma de atuação pública da família real traz diversas lições importantes para o marketing, tanto pessoal, como para o das empresas. Entre as principais lições, podemos citar:
- Saber o cenário que se está inserido e aprender como usá-lo a seu favor;
- Ter um contato próximo ao seu público, mostrando ser alguém próximo a eles;
- Trabalhar sua imagem através de diversas formas de marketing, sempre pensando em fortalecer sua marca no imaginário coletivo;
- Crises sempre ocorrerão, mas a rapidez com que você lida com ela, define o quando esta te afetará financeiramente.
São lições que a família real inglesa e a Elizabeth II aprenderam ao longo das décadas e que por sua capacidade e competência de colocá-las em prática, fizeram com que hoje a marca realeza seja das mais conhecidas do mundo, assim como era o rosto da antiga monarca.